quarta-feira, 8 de julho de 2009

Terra

Pergunte ao pó
Em minhas leituras, me deparei com um texto sobre a perspectiva indígena de ver mundo. Tudo são pessoas, mas em diversas formas e roupagens, acreditam os índios. A pedra, o macaco, a grama. Tudo deve ser respeitado, porque tudo é um só, todos são gente, vida em forma de bicho, de planta, de pedra.


Então me vejo de olhos fechados, esquecendo a aparência de tudo e me lembrando apenas de que tudo é um. Se abro os olhos, me lembro que é pedra, macaco, grama e piso, chuto e cuspo. Porque pedra, macaco e grama não é gente e não me interessa.
Tento lembrar dos índios e de seu cego respeito por tudo, pelo espírito das coisas, pelo universo uno. Só posso conversar com o mundo se esqueço a sua aparência, se ignoro que eu ando de pé e que o gato lambe suas patas. Tenho que perceber apenas que meu pêlo também é longo e que eu preciso comer e viver, assim como a grama e o macaco. Mas que às vezes preciso ficar quieta, como a pedra. E que a pedra não precisa de mim. E nem o macaco e nem a grama. E que, enquanto eu insisto em dizer que isso é grama, isso é pedra, isso é macaco, o macaco sobe na árvore e ignora completamente o que penso dele e o nome que atribuí a sua existência. E que a grama precisa de terra, do sol, mas não precisa de mim, e nunca vai me buscar para coisa alguma, pois sou inútil a ela. E que a pedra não precisa de mim, nem da árvore, nem do sol e nem da terra. E não precisa que eu a chame de pedra para existir e nem precisa que eu exista para existir. Pois a pedra é, simplesmente é, porque sempre foi, e sempre vai ser. Mas, principalmente e provavelmente, porque não sabe que é.