sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Contos Urbanos


Delírios numa torre no centro de Porto alegre

Então segurei firme, mas a janela insistia em ficar aberta.
O vento era muito forte, cantava lá fora e acho que tive medo. A janela dançava e o vento continuava cantando. Mas não era nada de poesia, era um temporal terrível e eu sentia o prédio balançar no meio daquela garoa. O tempo prometia algo muito forte, um furacão, um terremoto, uma bomba atômica, sei lá. Mas o que veio foi aquela garoa fina, interminável, meio que um orvalho caindo. E o vento continuava absurdo, e me sentia mais alto do que poderia agüentar, nesse prédio enorme de vinte andares sem explicação.
Decidi não sair de casa, sentei naquele longo sofá (grande demais pra Cecília e eu, parece sempre que falta alguém) e fiquei encarando a janela que continuava a teimar.
Levantei e olhei pra baixo, através do vidro trêmulo. Os guarda-chuvas se abriam lá embaixo e era como confete colorido, pontinhos redondos de todas as cores.
Do meu apartamento vejo muito da cidade, embora a maioria dos lugares nunca conheci pessoalmente.
A Cecília encara as coisas pela janela também, de vez em quando batendo de cara no vidro, quando tenta caçar um passarinho, esquecendo-se de que é impossível. Eu também costumo bater a testa na vidraça, também por causa dos passarinhos e às vezes por causa de alguns problemas.
O prédio é tão alto, daqui de cima há poucas coisas que não pareçam mais bonitas. A cidade parece calmamente pronta, é como se não houvesse nada a ser feito.
Então abro a vidraça, o temporal começa a hesitar, e inclino meu corpo como posso, me debruçando no parapeito da janela. O vento é forte demais, meus cabelos balançam, me sinto em uma torre, altíssima.

(E se o príncipe chegar, lá embaixo, o que vou fazer? E se pedir que eu jogue minhas tranças? Como explicar meus cabelos tão curtos? Como pedir com gentileza, sem quebrar o irremediável encantamento deste instante, que ele use o elevador?)

3 comentários:

Elektra disse...

Viste? Eu sou uma mulher prevenida de longos cabelos. Vai que eu escuto o trote do cavalo branco? E depilada, limpinha e de unha feita...
Vou te comprar umas tranças, Rapunzel, acho que tem mais romantismo nesse coração do que tu esperas...
Adorei!

Anônimo disse...

hehehe
amei a ultima parte....como explicar meus cabelos q são tao curtos...hahahaa

Tarsila Pereira disse...

Como explicar uma rapunzel que tem uma gata?
Se ele for um bom principe da maturidade entenderá tudo! Onde fica a tua torre?